GENTE QUE QUER CRESCER

Wednesday, May 24, 2006

SILÊNCIO

Hoje, não resisto a deixar aqui esta oração de Tagore que adorei:
"Aceita-me, Senhor: pega neste instante e que ele me faça esquecer os dias órfãos que passei sem ti. Estende este meu breve momento, descansadamente no teu regaço, e mantém-no sob a tua luz.
Vagueei perseguindo vozes que me atraiam, mas que não me levaram a lado nenhum. Deixa agora que eu me sente, tranquilo, a escutar as tuas palavras no coração do meu silêncio. Não afastes o teu rosto dos obscuros segredos da minha alma, mas ateia-os, até que os consumas no teu fogo".
(Rabrindanath Tagore)

Tuesday, May 23, 2006

RENUNCIAR

Este texto foi-me sugerido pela leitura da Xis desta semana. Esta palavra - RENUNCIAR - não goza de muita simpatia no nosso vocabulário. Normalmente associamo-la a sacrifício, sofrimento, custo...Segundo a autora de um artigo da Xis," renunciar não significa apenas "deixar cair", desistir, fugir às responsabilidades, ser vencido pelo medo, baixar os braços. Muitas vezes, renunciar exige muita coragem..."
Sim, exige a coragem de arriscar, de sair da nossa zona de conforto, de deixar, muitas vezes situações estáveis por outros menos estáveis mas que estão na linha do chamamento que nos vem do mais profundo e essencial de nós mesmos. Renunciar é o "pão de cada dia" de quem se põe a caminho, e que sabe que nada é permanente. Segundo os nossos irmãos budistas, tudo é "impermanência". E nesta caminhada feita de surpresas, e de impermanência, em que novas encruzilhadas se desenham a cada instante, há escolhas e, em consequência, renúncias. Não há caminhos rectilíneos. Ao escolher um caminho renunciamos necessariamente a outro. E é através de escolhas, de decisões, que se processa a nossa evolução. Continua a autora da Xis: "Renunciar põe-nos à prova, obriga-nos a trabalhar mais arduamente pelo que desejamos. Faz-nos sair da letargia em que adormecemos por conformismo e, por outro lado, dá-nos o prazer de vivermos uma realidade construída com as nossas mãos, à custa de sacrifícios saudáveis"

Tuesday, May 16, 2006

FLOR




"Ver o mundo num grão de areia e o céu numa flor,
acolher o infinito na palma da mão
e a eternidade numa hora".
(William Blake)

OPTIMISMO

"Os indivíduos optimistas mantêm uma visão positiva do futuro da humanidade, tendem a considerar possível o que desejam, e esperam alcançar as metas que se propõem (...) A perspectiva optimista do amanhã atenua os nossos desenganos no presente e torna mais toleráveis as decepções que a vida nos impõe (...) A atitude de esperança ajuda-nos a desdramatizar as adversidades sem lhes tirar a sua verdadeira importância e, ao mesmo tempo, impele-nos a tentar de novo e a lutar por superá-las".
(Luís Rojas Marcos em A força do optimismo)
Encontrei há dias este livro e partilho convosco um pouquinho do que hoje li. Num tempo de tantos desesperançados, é bom encontrar alguém que investiga as forças do optimismo. Depois, pus-me a pensar sobre esta coisa de esperança e optimismo. São a mesma coisa? São coisas diferentes? Parece-me que a esperança vai mais fundo, que vê mais longe. Esperar é abrir-se ao futuro com serenidade e tranquilidade certos de que ele já nos pertence, que está ao nosso alcance, ali bem perto à distância de um mão. Assim, o optimista tem esperança. Sempre. Mesmo se tudo "vai mal". O pessimista, esse desespera até quando as coisas "vão bem" porque ele nem acredita que possam "ir bem". É só por acaso que algo de bom acontece.
Se todos olharmos para a luz, a luz nos iluminará.

Wednesday, May 10, 2006

DESAPEGO

Vamos deixar o "deserto" e aterrar no real da nossa vida. Que não deixa de ser deserto...Só que é outro. É o deserto dos amigos, o deserto da falta de ocupação ou de trabalho, o deserto das ansiedades, do desinteresse, da desmotivação, etc. etc...Cada um sabe o nome a dar ao seu ou seus desertos. Sejam eles quais forem, se bem vividos, são sempre ocasião de crescimento, são tempo de preparação para novas lutas...novos "nascimentos". Na tradição judaico-cristã o deserto é sempre tempo de "provação, de preparação para o NOVO". Eu diria que é um tempo de DESAPEGO. E, nesse sentido, deixo-vos o que li ontem num texto da tradição xamânica:
"Já me entreguei ao poder que governa o meu destino.
E não me prendo a nada para não ter nada a defender.
Não tenho pensamento, por isso verei.
Nada temo, por isso lembrar-me-ei de mim mesmo.

Desprendido e à vontade,
Passarei veloz pela Águia para me tornar livre"

Wednesday, May 03, 2006

O MEU DESERTO VIVIDO

Deserto...
Espera...inquieta, ansiosa, serena.
Deserto, o imprevisto, como na vida.
Os caminhos longos, áridos, agrestes.
O cansaço até à exaustão,
A emoção da chegada,
As lágrimas que se desprendem, quentes, silenciosas, festivas!
Os caminhos interiores já percorridos, os rostos e as paisagens que me habitam.
-"O Principezinho" da minha juventude, "Lawrence d'Arábia",
Carlos Carreto entre os Tuaregues, Jean-Yves Leloup..."-

Deserto é a imensidão,
É o nada, a ausência total de tudo:
De sensações, de emoções...o vazio.
É a vida "chocada", fecundada, no aconchego quente das dunas,
Que logo, logo vai brotar em gestos, palavras, sorrisos.
Deserto é silêncio...cortado, aqui e ali, pela gargalhada, pelo riso
- Alegria? Medo da solidão? Medo do vazio? Salto em frente? -
Sim, porque a palavra fecunda, a palavra-partilha, a alegria serena
Dizem-se baixinho, sussurram-se de coração a coração,
Dizem-se do essencial para o essencial.

Deserto são as pegadas na areia, logo desfeitas,
Logo cobertas por areia nova.
Deserto é o esforço da subida, passo a passo, pacientemente...
Até ao cimo, onde o grande sol terá outra cor.
Deserto é o andar ritmado do dromedário,
Lento, contemplativo, cadenciado, como o do seu dono.
Deserto é a areia em tempestade, que nos fustiga,
Nos bate no corpo e na alma, que entra por todos os poros,
Apagando traços, abrindo traços...
São as gotinhas de água que, vindas do nada,
Despedem a tempestade.

Deserto é encontrar uma tenda ou uma duna para aconchegar o sono,
Contemplando as estrelas, olhando a lua enorme, redonda,
E ouvindo o som da flauta, que nos emociona e embala.

Deserto é estar ali, no meio do nada, só, mas pleno de tudo.
É estar ali em adoração contemplativa
Recolhido em si e aberto ao TODO,
Ao Senhor das dunas e das areias, do vento e da tempestade, do sol e da chuva,
Ao Senhor de toda a VIDA que se esconde para além do nada.

Ilda