PRIMAVERA

Estamos ainda a um mês da Primavera. No entanto, o tempo vai-nos brindando com um sol magnífico, com temperaturas amenas e com flores que espreitam em vivas cores por todo o lado.

Tempo para começarmos a acordar da lentidão invernal e para irmos por aí, bebendo a VIDA, acordando sonhos, iluminando caminhos, apontando rumos...

E, para ajudar, aí vai um poema de Heine, com tradução de Jorge de Sena:

NA VERDADE...

Quando, com o sol, a Primavera chega,
Brotam as flores e abrem-se em matizes.
E as estrelinhas nadam tão felizes
Atrás da lua quando ao céu navega!
E o trovador que cruza um olhar lindo
Sente os poemas dentro em si subindo.
Mas, poemas, astros, flores, um belo olhar,
E a luz do sol mais a luz do luar,
Ainda que sejam de um encanto fundo,
Não bastam, juntos, p`ra fazer um mundo.

SONHAR

A convite de um amigo e ex-colega fui ontem ouvir uma conferência que tinha por tema "Uma vida com sentido". O tema era aliciante. Gosto destas coisas, destas reflexões que têm a ver com o essencial da vida. O que eu não esperava era um orador tão surprendente. Ali estava um indivíduo, nos seus 44 anos, sereno, seguro, feliz, falando para uma sala de cerca de 30 pessoas, de coisas muitos simples, mas muito essenciais. Falava com a naturalidade com que a água brota da fonte.

Falava dos seus sonhos, dos nossos sonhos..."Por onde andam os nossos sonhos?" - interpelava. "Sonho é diferente de ilusão. O sonho depende só de mim. Eu posso sonhar ser feliz, mas não posso sonhar ter um casamento feliz...O sonho tem de ser realizável. O sonho é a linguagam que o cérebro encontra para se programar. O sonho tem de ser visto (imagens), sentido (emoções), e ouvido (sons). E o orador convidava as pessoas a "olhar para o que gostariam de conseguir daqui para a frente". E era como se se dirigisse a cada uma. "Imaginem positivamente...O nosso maior obstáculo está dentro de nós, na forma como nos limitamos" É preciso abrir a mente, abria as asas, voar..."Dêem-se ao trabalho, dizia ele, de se incomodar, de fazer diferente, de exigirem ser bem tratados, de fazer alguma coisa pelos outros. Tenham fé de que são capazes. Agradeçam como se já tivessem conseguido o que pedem. Pedi e recebereis..."

E a "conversa"continuou neste tom, com exemplos ilucidativos, por cerca de duas horas. Foi bonito, foi convincente, foi encorajante. Tive orgulho do país onde este homem nasceu e cresceu. Se quiserem saber mais sobre ele - Adelino Cunha é o seu nome, vejam em www.ihavethepower.net

DOMINGO

Hoje é DOMINGO, para alguns o Dia do Senhor, para outros simplesmente um dia talvez mais espiritualizado, mais flexível, com um pouco mais de tempo para dedicar a si e aos outros. Também para mim é uma dia mais repousante, até porque ainda está cheio com o esplendor da Serra da Freita por onde ontem caminhei durante horas com um grupo de amigos. Vou frequentemente áquela Serra. Estou em crer que há nela uma magia e energia que me prendem às suas rochas, aos seus vales e riachos às suas cascatas e àquelas aldeias velhinas de séculos que agora tentam renovar com enormes casarios que ainda não decidi dentro de mim como classificar...Algumas, parecem um renovação adequada. Outras, mais aparentam uma exibição de riqueza de gosto duvidoso. Seja como for, aquela serra prende-me.

Mas voltemos ao Domingo, o "Dia do Senhor". Procurando um alimento para a alma, encontrei-me com o misticismo de Tagore, que partilho convosco:

"Quando ainda não conhecia o meu rei,
pensei, atrevidamente,
que poderia esconder-me dele
sem pagar a dívida que me exigia.

E, depois do meu trabalho de cada dia
e do meu sono de cada noite,
fugia-lhe e tornava a fugir.
Mas logo parava a respirar
vinha a sua mão e agarrava-me.
Soube, assim, que Ele me conhecia,
e que não há no mundo
lugar algum que não lhe pertença.

Agora, todo o meu desejo
é colocar tudo quanto tenho a seus pés,
e conseguir o direito
a ter um lugar no seu reino."

R. Tagore

MÚSICA

Gosto de música. Enquanto estou por aqui dedilhando teclas, chegam-me os acordes de uma música suave, delicada, mas vigorosa. A música dá-me paz, serena o espírito, enche a alma...A música é mesmo "coisa da alma", como diz Ruben Alves: "Acho que "alma" é o nome que se dá para aquele lugar onde os sentimentos são profundos de mais para palavras. A música, por exemplo, é coisa da alma. Não há palavras que possam dizer a beleza de uma sonata de Mozart".

A minha casa está sempre cheia de música. Numa conferência sobre o ensino, dizia o conferente que as escolas deviam ter sempre música. Defendia ele que a música clássica desperta a mente. E nem é preciso que estejamos atentos a ela. Basta que ela, a música esteja presente. Por mim, vou continuar a deixar-me envolver por notas e mais notas e mais notas...Vou continuar a deixar-me elevar. Porque a música é divina. Creio que o céu está cheio dela.

TU NÃO SABES...

TU NÃO SABES O QUE ME CUSTA

Tu não sabes o que me custa
querer-te como te quero!

Por te querer me dói o ar,
o coração
e o chapéu.

Quem me compraria a mim
este anelzito que trago
e esta tristeza de fio
branco, para fazer lenços?

Tu não sabes o que me custa
querer-te como te quero.

Garcia Lorca

CARNAVAL

A FELICIDADE

Tristeza não tem fim,

Felicidade, sim...

A felicidade é como a pluma

Que o vento vai levando pelo ar

Voa tão leve

Mas tem a vida breve

Precisa que haja vento sem parar.

A felicidade do pobre parece

A grande ilusão do Carnaval

A gente trabalha o ano inteiro

Por um momento de sonho

Pra fazer a fantasia

De rei ou de pirata ou jardineira

E tudo se acaba na quarta-feira...

(....)

(Vinicius de Morais)

E mesmo se o tempo estraga o carnaval, recomeça-se um ano e outro e outro...Apesar de sabermos que de uma felicidade breve e fictícia se trata, sabe bem quebrar o ritmo normal da vida. E a vida, por vezes, é pesada e não deixa grandes alternativas para uma busca de felicidade mais perene...

SOLIDÃO

"Solidão não é falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...

Isso é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar.

Isso é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe às vezes para realinhar os pensamentos.

Isso é equilíbrio.

Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsivamente para que revejamos a nossa vida.

Isso é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...

Isso é circunstância.

Solidão é muito mais do que isso: SOLIDÃO É QUANDO NOS PERDEMOS DE NÓS MESMOS E PROCURAMOS, EM VÃO, PELA NOSSA ALMA."

(Chico Buarque)