GENTE QUE QUER CRESCER

Thursday, March 25, 2010

Hoje, lia Fernando Pessoa, e parecia que me estava a ler a mim mesma. Aí vai:

"Quando é que o cativeiro,
Acabará em mim,
E, próprio, dianteiro,
Avançarei enfim?

Quando é que me desato
dos nós que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?

Quando, ao virar da esquina
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna
Da alma que Deus me deu?

Quando é que será, quando?
Não sei.E até então
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão."

Friday, March 19, 2010

BEIJOS

Não sou particular apreciadora do estilo dos livros de Lobo Antunes. Mas gosto imenso de ler as crónicas que todas as semanas escreve na Visão. Acho-as uma delícia de ternura e humanidade, por onde sinto passar a alma do autor. Na da semana passada escrevia o seguinte:
"A minha mãe diz que na altura em que eu era bébé lhe doía a boca de me dar beijos. Não me lembro deles mas alguma parte minha deve ter saudades desse tempo porque sinto a falta de qualquer coisa que não sei exprimir, qualquer coisa leve e doce, um contacto, palavras, cheiros, uma espécie de ninho de que eu fosse o ovo feliz, um ovozito de nada, pintalgado, minúsculo".
Também a minha experiência se aproxima da deste homem, um gigante da nossa literatura. Um dia, quando a minha mãe já era bem idosa, disse-lhe quase em tom de queixa: "Não me lembro dos seus beijos, quando era pequenina". Resposta pronta dela: "Ó filha, dei-te tantos beijos!"
E fico a pensar: Porque não me lembro, porque não se lembra o autor da crónica da Visão, dos beijos da nossa mãe? Porquê essa saudade do ninho, essa espécie de buraco que fica em nós, essa fome de ternura, de toque, de carinho, eternamente insaciável? E há solução, ou temos de nos resignar a viver com isso? Gosto de repetir que "só o amor é que cura". Pelos vistos, o que as nossas mães, com toda a sua boa vontade nos deram, não foi suficiente. Mas algum ficou cá, porque cada um de nós é capaz de dar amor, a si e aos outros. E cada um de nós e capaz de receber amor...

Friday, March 12, 2010

FESTA DA VIDA

Aí estão elas, as amendoeiras em flor, a anunciar a Primavera. Com a Primavera, o renascimento da VIDA. Mesmo com um Inverno rigoroso e prolongado, as coisas, aparecem a seu tempo. E nós começamos também a sair dos nossos "tugúrios", das nossas "invernias" para nos associarmos à Natureza que desperta.
Tempo para uma MEDITAÇÃO com a Natureza.
Este fim de semana, saia de casa. Procure um lugar bonito que pode ser um jardim, ou um espaço mais alargado em plena Natureza. Passeie por entre as árvores, pelo meio do relvado ou da erva e...observe o que se passa à sua volta. Não faça mais nada. Abra todos os seus sentidos: VEJA as flores, as árvores a rebentar, o céu azul, os pássaros no seu voo alegre. OUÇA, o canto dos pássaros, os seus passos e de outras pessoas, tudo quanto lhe chega de perto ou de longe. CHEIRE os perfumes da flores, da erva, todos os cheiros que lhe cheguem. TOQUE as árvores, abrace-as, perceba o seu vigor, sinta a suavidade da relva ou o duro do caminho debaixo dos seus pés. SABOREIE o gosto duma erva tenrinha, de algo que lhe chame a atenção.
Faça isso durante cerca de um quarto de hora e verá como volta para casa revigorado/a.

Friday, March 05, 2010

PERFECCIONISMO

Um comentário da Isabel no Blog (a propósitom, a Isabel escreve muito bem), suscitou em mim, mais uma vez, o tema do perfeccionismo. É um tema que me é querido, porque também eu sofri durante anos o resultado de uma formação para o perfeccionismo. E levei o meu tempo a desligar-me disso e a deixar fluir a vida de uma forma bem mais relaxada.
O mandato "sê perfeito" que uma grande parte das pessoas traz desde a sua infância é profundamente injusto pois, no fundo, nos desumaniza. Se pensarmos bem, qualquer pessoa, porque humana, tem direito a errar, a fazer, por vezes, coisas menos certas. Mas, o que é isso de coisas menos certas? O "certo" e o "errado" não está ainda imbuído de mandatos e crenças do passado? Os conceitos de certo e errado foram adquiridos por mim, ou recebi-os de alguém e ainda não me dei ao trabalho de os examinar à lupa do meu próprio sentir, da minha própria consciência?
Mais ainda: Para alguns, "ser perfeito" é conformar-se a um determinado modelo de perfeição que interiorizou seja ele Jesus Cristo, Buda, ou qualquer outro iluminado. Quer dizer, ser perfeito para esses é correr atrás de... E, claro, isso cansa, esgota. Suporta-se por algum tempo, mas depois deita-se fora porque se torna demasiado pesado. O maratonista chega à meta completamente esfalfado! Á vida não é nenhuma maratona. A Maratona é um luxo para alguns mais resistentes...
"Ser perfeito" para mim hoje é deixar emergir o que há em mim. É ser igual a mim próprio, aceitando-me e gostando de mim, com as minhas sombras e as minhas luzes. E, paradoxalmente, é a partir daí que as mudanças que eu gostaria de ver e experimentar em mim, acontecem. Só temos de correr para dentro de nós próprios. O resto, virá por si. Isto confirma aquele sábio princípio da filosofia grega: "conhece-te a ti mesmo". Conhecer e... deixar emergir, confiantes na sabedoria do nosso SER mais profundo, que sabe daquilo que é bom para nós e também daquilo que podemos suportar num determinado momento.