GENTE QUE QUER CRESCER

Thursday, November 25, 2010

SIMPLICIDADE VOLUNTÁRIA

Há meia dúzia de anos ouvi pela primeira vez esta expressão. Falava-se então de um grupo de pessoas que se treinavam para viver com o mínimo possível. Com o absolutamente necessário. A ideia ficou a bailar cá dentro e fez com que eu própria, de vez em quando, me fosse interrogando sobre os meus gastos. Ainda hoje, quando vou comprar alguma coisa, tenho por hábito perguntar-me: "Precisas mesmo disto"' E não raramente renuncia à compra.
Há dias encontrei nas estantes de uma livraria um livro precisamente com este título: SIMPLICIDADE VOLUNTÁRIA, de Duane Elgin, ed. estrelapolar. Claro que o comprei (sem me perguntar se precisava dele). A sua leitura está a revelar-me que precisava mesmo dele. Primeiro, tem-me ajudado a acertar as minhas ideias sobre esta questão. Segundo, está a ajudar-me a rever alguns aspectos da minha vida e, assim, evoluir.
Aqui fica uma pequena amostra:
"A simplicidade voluntária engloba ambas as condições, interior e exterior (...) A simplicidade voluntária é um modo de vida exteriormente simples e interiormente rico. É uma forma de estar em que o nosso ser mais autêntico e vivo é posto em contacto directo e consciente com a vida. Este modo de vida não é uma condição estática a alcançar, mas sim um equilíbrio sempre em mudança, contínua e conscientemente realizado (...) O objectivo da vida simples não é viver dogmaticamente com menos, mas com o equilíbrio necessário para realizar uma vida de maior propósito, realização e satisfação".
Nestes tempos em que o modelo económico que se instalou está a ser posto em questão, e em que está a ser urgente uma mudança de paradigma, talvez este tema nos possa ajudar. As grandes ou pequenas mudanças começam com a mudança de cada um.

Thursday, November 11, 2010


O céu outonal carrega-se dos seus tons cinzentos. O vento sopra, umas vezes de mansinho, outras mais impetuoso. Aquela vontade quase imperiosa de sair de casa, de caminhar sem destino por caminhos cheios de luz, esfuma-se e quase desaparece. Por outro lado, invade-nos o gosto do aconchego junto da lareira ou em qualquer outro lugar bem quentinhi. O tempo convida ao recolhimento, a leituras serenas a um chàzinho fumegante acompanhado daquela torrada saborosa acabada de barrar com a nossa compota preferida.


É tempo de olhar mais para dentro. Aproveitemos e deixemo-nos levar. Depois desse chazinho, paremos mais uns minutos e ouçamos o nosso coração. Como bate? Apressado, agitado, ou calmo? Escutemos todo o nosso corpo... A nossa respiração e...mais fundo o que se passa a nivel das nossas emoções. Como me sinto? Estou só ou acompanhado? E daí?

Friday, November 05, 2010

URGÊNCIA

Gosto de poesia. Ela consegue num único rasgo, ir lá ao fundo e trazer cá para fora aquilo que eu nao sei dizer - traz ao de cimo as emoções, o inexprimível. Hoje, apareceu-me Eugénio de Andrade. Aqui fica um bocadinho do que encontrei:


URGÊNCIA


É urgente o amor

É urgente um barco no mar.


É urgente destruir certas palavras,

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos,

muitas espadas.


É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.


Cai o silêncio nos ombros e a luz

impura, até doer.


É urgente o amor

é urgente

Permanecer.




Thursday, November 04, 2010

Este ano que está a acabar comprei e usei uma agenda de Fernando Pessoa. Cada dia, cada semana, uma frase deste nosso grande escritor vai alimentando a minha alma. Hoje, lia:
"Toda a alma digna de si própria deseja viver a vida em extremo. Contentar-se com o que lhe dão é próprio dos escravos. Pedir mais, é próprio dos loucos".
Portanto, para o nosso Pessoa, há duas estas duas classes: a dos loucos e a dos escravos. De que lado me sinto? De que lado se sente cada um de nós? Ousar viver no limite da exigência, puxar a vida ao extremo é o que cada um deseja. Na prática, como o próprio Pessoa diz em outro lugar, "fico-me pela metade". Queremos o mundo, e é bom. Ficar pela metade, se calhar, é humano. A grande questão é a forma como cada um de nós vai gerindo o impulso para a frente. Há dias em que parece que nos puseram asas, umas asas brancas....E vem-me aquele poema de Almeida Garrett:
"Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu."
Sempre me encantou este poema e decorei mesmo algo dele. Os poetas sabem dizer as coisas tão bem. O segredo são as asas! A cada um de descobrir o que lhe dá asas. Quem lhe põe asas...porque a vida é bem mais fácil, e puxá-la ao extremo é uma brincadeira, se tiver asas.