GENTE QUE QUER CRESCER

Friday, March 05, 2010

PERFECCIONISMO

Um comentário da Isabel no Blog (a propósitom, a Isabel escreve muito bem), suscitou em mim, mais uma vez, o tema do perfeccionismo. É um tema que me é querido, porque também eu sofri durante anos o resultado de uma formação para o perfeccionismo. E levei o meu tempo a desligar-me disso e a deixar fluir a vida de uma forma bem mais relaxada.
O mandato "sê perfeito" que uma grande parte das pessoas traz desde a sua infância é profundamente injusto pois, no fundo, nos desumaniza. Se pensarmos bem, qualquer pessoa, porque humana, tem direito a errar, a fazer, por vezes, coisas menos certas. Mas, o que é isso de coisas menos certas? O "certo" e o "errado" não está ainda imbuído de mandatos e crenças do passado? Os conceitos de certo e errado foram adquiridos por mim, ou recebi-os de alguém e ainda não me dei ao trabalho de os examinar à lupa do meu próprio sentir, da minha própria consciência?
Mais ainda: Para alguns, "ser perfeito" é conformar-se a um determinado modelo de perfeição que interiorizou seja ele Jesus Cristo, Buda, ou qualquer outro iluminado. Quer dizer, ser perfeito para esses é correr atrás de... E, claro, isso cansa, esgota. Suporta-se por algum tempo, mas depois deita-se fora porque se torna demasiado pesado. O maratonista chega à meta completamente esfalfado! Á vida não é nenhuma maratona. A Maratona é um luxo para alguns mais resistentes...
"Ser perfeito" para mim hoje é deixar emergir o que há em mim. É ser igual a mim próprio, aceitando-me e gostando de mim, com as minhas sombras e as minhas luzes. E, paradoxalmente, é a partir daí que as mudanças que eu gostaria de ver e experimentar em mim, acontecem. Só temos de correr para dentro de nós próprios. O resto, virá por si. Isto confirma aquele sábio princípio da filosofia grega: "conhece-te a ti mesmo". Conhecer e... deixar emergir, confiantes na sabedoria do nosso SER mais profundo, que sabe daquilo que é bom para nós e também daquilo que podemos suportar num determinado momento.

2 Comments:

  • At 7:31 AM, Blogger Isabel said…

    Obrigada, Ilda, gosto de escrever, ou gostava, agora não o faço muito.
    "Conhece-te a ti mesmo." E porque é que é tão difícil conhecer-me,ou conhecermo-nos, o que pode ser uma pergunta sem sentido, se partir do pressuposto de que outras pessoas se conhecem melhor do que eu tenho conseguido até hoje? Mais uma vez, só me ocorre uma primeira lição muitas vezes ouvida e só agora, com algum custo, julgo que aprendida: é preciso parar. A meditação teve já essa primeira virtude comigo. Depois há algumas desconstruções a fazer em relação a esses valores tão parte de nós, importantes mas distorcidos pela constante perseguição da humildade e quase aniquilação do Eu em favor do Outro. Faz também sentido agora aquele lema e também slogan publicitário: "Se eu não gostar de mim, quem gostará?"
    Em determinada ocasião, há cerca de catorze anos, quando alguém me disse que eu tinha que cuidar de mim e que o meu filho bebé me agradeceria mais do se continuasse a privar-me sem pausas para cuidar de tudo o que lhe dizia respeito,fiquei chocada. Até hoje fui fazendo concessões a mim própria,nem sempre isentas de sentimento de culpa. É um caminho para a melhoria que sei se reflecte positivamento nos que nos rodeiam e, então, estamos realmente a fazer o Bem, o que está Certo, sem receio do "Inferno=Egoísmo".

     
  • At 9:27 AM, Blogger Ilda Fontoura said…

    Este comentário tão rico da Isabel sugere-me mais uma reflexão sobre duas coisas:
    - A questão da "humildade". Transmitiram-nos um determinado entendimento dela. É tempo de rever o que nos transmitiram, e...tirar conclusões.
    - PARAR: quanto a mim, nunca insistiremos demais neste ponto. É urgente parar... Para ver melhor para dentro, para ver melhor ao nosso redor. Se não paramos, arriscamo-nos a atropelar, tudo.
    PARAR..PARAR...PARAR. E VEREMOS COMO TUDO SE ORGANIZA À NOSSA VOLTA.

     

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