GENTE QUE QUER CRESCER

Tuesday, May 20, 2008

RELAÇÕES

Acabo de ler um livro bem interessante dum romancista Japonês, ao que parece um dos grandes escritores da actualidade, que me fez reflectir sobre esta coisa complicada que são as relações entre as pessoas. Diz este romancista a certa altura do seu livro "Sputnik, meu amor":
"E assim prosseguinmos com as nossas vidas, cada um para o seu lado. Por mais profunda e fatal que seja a perda, por mais importante que seja aquilo que a vida nos roubou - arrebatando-o das nossas mãos -, e ainda que nos tenhamos convertido em pesssoas completamente diferentes, conservando apenas a mesma fina camada exterior de pele, apesar de tudo isso continuamos a viver as nossas vidas, assim, em silêncio, estendendo a mão para chegar ao fio dos dias que nos coube em sorte, para logo o deixarmos irremediavelmente para trás. Repetindo, muitas vezes, de forma particularmente hábil, o trabalho de todos os dias,deixando na nossa esteira um sentimento de um incomensurável vazio".
(Haruki Murakami, em Sputnik, meu amor)
Já aqui abordei, em posts mais antigos, o tema dos nossos relacionamentos. E este pequenino extracto, oferece-me mais uma oportunidade de reflectir sobre a forma como nos entregamos ou não uns aos outros. Porque, quer queiramos ou não, a nossa vida é uma teia de relações. Viver é relacionar-se. E é interessante observar como se vai tecendo essa teia. Primeiro, o outro surge como a pessoa ideal, cheia de qualidades, um cestinho de surpresas cada qual a mais surpreendente e encantadora. Até conseguimos encontrar imensos pontos de sintonia: "É incrível como somos parecidos, como pensamos da mesma maneira...é incrível a sintonia que há entre nós..." É o momento do encantamento que pode durar mais ou menos tempo. Depois, começamos a perceber que afinal o outro tem este e aquele defeito. Que não é assim tão perfeito e tão "superior" como tinhamos imaginado. Digo bem "imaginado"! Porque o outro, melhor, a imagem que dele fazemos, é fruto do nosso inconsciente. Aquilo que percebo dele é fabricado por mim. É a imagem que eu faço dele.
Só que os laços já estão enraizados. Para conveniência dos dois, (é tão bom, ser aceite, aceitar...ser acarinhado/a...)preferimos ir continuando, mesmo quandoa relação já não nos satisfaz. E, o mal-estar, a decepção, começam a instalar-se: "antigamente não era assim, já não o/a reconheço, etc), e mais dia menos dia vem o que tanto temiamos, o corte. E vem o sofrimento. E vem a tristeza e a solidão. E damos voltas e voltas à cabeça para encontrar saída.
É aqui que frases como as transcritas acima podem ajudar: "...continuamos a viver as nossas vidas, assim, em silêncio, estendo a mão ao fio dos dias que nos coube em sorte..." Ou ainda esta frase de um outro autor: "Cada alma segue o seu caminho sozinha..."
São tempos de muito sofrimento e solidão. Mas são também tempo de um grande crescimento interior. É a partir de nós e agarrando-nos àquilo que de mais positivo já experimentamos em tempos semelhantes, que poderemos ir agarrando os fios da nossa vida e ir em frente, mesmo se não vemos caminho.

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