GENTE QUE QUER CRESCER

Wednesday, April 02, 2008

NOS CAMINHOS DA VIDA - II

Continuamos com a história da Geny. Dizia eu que tinha casado porque "teve de ser"....

Mas, uma luz brilhava e iluminava esta vida. Dentro de si, o embrião de um novo ser crescia e dava-lhe força e até alegria para seguir em frente, esquecendo as agruras do passado. Esse pequenino ser crescia, na mesma medida em que cresciam os seus sonhos e esperanças. Agarrou-se a ele como quem se agarra a uma tábua de salvação. Era algo que tinha de si e para si.
Diz-se que a "vida, às vezes, é madrasta". De facto, a vida que já tinha sido tão madrasta para esta mulher, foi-o mais uma vez. A uma semana do parto, a Geny perdeu o seu bébé num acidente estúpido e brutal. Perdeu o bébé, perdeu a possibilidade de voltar a ter filhos e ia perdendo a própria vida. E, a luz do seu olhar que se tinha iluminado por breves tempos, voltou a escurecer-se. Ao sofrimento já existente juntou-se mais este. Valia a pena continuar a viver? Não seria preferível acabar com isto de uma vez por todas? A sua vida foi-se arrastando entra estas e outras interrogações, procurando alívio aqui e acolá, procurando respostas e soluções. Pelo meio aconteceram amores e desamores, consequência da sua fragilidade, e busca de preenchimento para aquela falha original motivada pela ausência de carinho paterno e materno.
Mas a Geny já tinha demonstrado para si própria que era uma mulher forte e que não ia entregar-se e desistir à primeira. E a prova é que aí estava ela, diante de mim, a pedir ajuda.
Nestes últimos tempos a psicologia fala muito de "resilência", termo utilizado para designar pessoas que, tendo tido uma infância e adolescência marcadas por muito sofrimento, conseguem "dar a volta" e avançar na vida de cabeça levantada. Esta mulher é uma resiliente...
A certa altura, o pai, por quem nutria uma raiva imensa por causa das investidas e tentaivas de abuso de que tinha sido alvo desde a pequena infância e até bem tarde, entrou na fase final da sua vida.
Durante anos a fio, a Geny não conseguira encarar o pai, nem o pai a ela por motivos evidentes. Mas, ao aproximar-se do fim, este começou humildemente a olhá-la nos olhos, com um olhar diferente, como quem pede perdão. E esta mulher forte e de coração sensível dá consigo a responder a esse olhar, como quem diz: "sim, eu perdoo".
Foi um namoro de olhos durante dias e dias. Até que um dia, a Geny encontra dentro de si a coragem para lhe dizer: "pai, perdoo-te o mal que me fizeste".
A morte tem o grande dom de nos colocar face à nossa própria verdade. Se nunca tivemos coragem de o fazer ao longo da vida, perante a morte não temos escapatória. Sós connosco, tornamo-nos no nosso próprio juiz. E a sentença é, por vezes, bem dura.
Hoje, sinto orgulho da Geny. Pacificado este bocadinho de si, a relação com o pai, outras áreas da sua vida continuarão a pacificar-se. Sei que ela vai lutar por essa pacificação, pela sua felicidade, e por aquilo que quer.
E eu "torço", como dizem os nossos amigos brasileiros, para que isso aconteça bem depressa.

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