GENTE QUE QUER CRESCER

Friday, March 28, 2008

DESEJOS

Hoje, inspira-me um poema da minha amiga Marta Dutra, uma açoreana linda, apaixonada pela Medicina Tradicional Chinesa, que acaba de ver publicado o seu primeiro livro de poesia, "VAGO - o OLHAR":

São tão perecíveis os desejos
desfiam-se em surdina
ao longo do meu corpo
para alimentar uma flor-de-lis
plantada à beira rio
lá prós lados do impossível.

Somos seres de desejo, sinal da nossa incompletude, sinal da nossa insatisfação, sinal do nossa necessidade de plenitude. É como se tivéssemos nascido incompletos. É como se durante toda a nossa vida outra coisa não fizéssemos do que aspirar a mais. Desejamos sempre tanta coisa! Desejamos ter uma casa boa e talvez outra melhor quando me cansar desta, desejamos um bom carro, desejamos um bom emprego que nos dê muito dinheiro, desejamos, desejamos....E depois, no plano espiritual desejamos ser felizes, desejamos ter paz, desejamos viver de bem com todos, desejamos tanta coisa! E lá dentro sempre aquela insatisfação de que ainda não chega...Nunca chega, quer no plano material quer no plano espiritual.
Tanta coisa poderíamos dizer a propósito desta insatisfação que nos mina! Alguns só se sentem minados pelas aspirações materiais. Nunca se sentem satisfeitos com aquilo que têm. Se um dia parassem para perceber a sua insatisfação, talvez chegassem àquela outra insatisfação, aberta aos valores espirituais, ao infinito. E, neste plano, a tal insatisfação até pode ser saudável desde que não gere ansiedade...É uma insatisfação que me conduz ao centro de mim para aí descobrir tudo o que trago lá dentro desde o meu nascimento e que quer ser actualizado. Essa, se não for excessiva dá-me paz e dá-me a tal sensação de plenitude à qual, no fundo, todos aspiramos.
Os orientais, os busdistas, lutam por anular o desejo porque, segundo eles, é fonte de sofrimento. E têm alguma razão. Mas, também Buda teve pelo menos o desejo de não ter desejo. Logo, o desejo é, ao que parece, inerente à nossa natureza e fonte de progresso material e espiritual.
Obrigada, Marta por me proporcionares esta reflexão.

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