GENTE QUE QUER CRESCER

Sunday, July 06, 2008

VOLUNTARIADO

Na sequência da minha inscrição no grupo dos voluntários para os Serviços Prisionais, vou-me deslocando todas as sextas feiras de manhã, com uma companheira, à cadeia da cidade. Vamos reunir com um grupo de mulheres que aqui aguardam o julgamento. São poucas, seis, sete...Gente bastante nova que talvez tenha tido o azar de estar no lugar errado à hora errada como se costuma dizer. Dá para perceber que gostam de passar aquela manhã connosco. Falam das suas vidas, da de dentro e da de fora. E nós ouvimos. Muito simplesmente, ouvimos. É a coisa de que todo o ser humano mais precisa: ser ouvido. Porque, quando ouço o outro, estou a dar-lhe importância. Estou a dizer-lhe que ele existe para mim, que o aceito tal qual é, sem o recriminar, sem o julgar. E, esta palavra assim ouvida liberta. É por isso que estas jovens-mulheres gostam de estar connosco e vão mais leves quando voltam às suas celas.
Também nós vimos de lá mais leves, mais enriquecidas. São autênticas lições de aceitação da vida tal como ela se apresenta nos seus momentos mais dolorosos, de solidariedade, de generosidade, que muitas vezes não encontramos nos que andamos cá por fora.
Reflectiamos em conjunto nesta última semana sobre as dificuldades de reiinserção quando vêm cá para fora. O estigma de ter estado presa fica agarrado à sua pele como um ferrete. Esquecemos que, nas mesmas circunstâncias, qualquer um de nós poderia ter sido apanhado nas mesmas malhas. A vida não é a branco e preto. A humanidade não é constituída por bons e maus, mas "às riscas", como muito bem dizia aquela criança a quem perguntaram de que cor seria se os maus fossem brancos e os bons fossem pretos: "Eu seria às riscas", respondeu ela prontamente.

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