OUTUBRO

Cada ano, as mudanças de estação vão sendo para mim uma fonte de reflexão. E aí está novamente o Outono com as suas cores douradas, com a sua frescura matinal, com aquele ventozinho às vezes próximo do agreste, com a luz do sol a deixar-nos mais cedo. Para mim o Outono é esplendoroso! Gosto de passear por entre as árvores que vão largando as suas folhas, como quem se despe, se desnuda para o recolhimento do Inverno. Gosto de pegar em cada folha amarelecida, às vezes avermelhada, e deixá-la novamente cair por terra para que desempenhe o seu papel fecundador de vida nova.

Também nós, os seres humanos, como que regressamos da exuberância do verão ao retomar dos trabalhos que nos vão absorvendo a mente, o corpo, os afectos. Trabalho fecundador, trabalho gerador de vida que, de alguma forma, exige o desapego dos tempos de repouso de que gozámos durante o Verão. A nossa vida é feita de ciclos como os da natureza. Já lá vai o tempo em que a vida era bem mais marcada por esses ritmos, Os pastores, os agricultores ainda hoje os conhecem. E nós, os citadinos, queiramos ou não, também não escapamos a eles. Se nos esquecermos disso, o nosso corpo acaba por nos lembrar.