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Friday, December 21, 2007

NATAL

Invariavelmente, o Natal faz-me voltar, cada ano, aos tempos da minha infância: ao calor da lareira, ao jogo dos pinhões - rapa, tira, põe, deixa - à alegria descuidada das brincadeiras com os meus porimos e primas, ao cheiro dos fritos e a toda a magia que envolve a noite do Natal de qualquer criança. Tem de haver sempre Natal, nem que seja só para permitir às crianças viverem essa noite maravilhosa!
Depois, houve também os natais da minha adolescência passados no colégio. O Menino Jesus transportado, em plena noite, num andorzinho azul até ao presépio que se erguia enorme na capela de fundo castanho decorada com camélias brancas, os cânticos, a Missa do Galo...Tudo aquilo era tão mágico!
E ainda os natais de África, sem neve, mas com o mesmo encanto. O "Silent Night" também aí tinha o seu lugar!
Creio que uma grande parte desta magia e encanto me têm acompanhado ao longo da vida e permanecem em mim. Vivo este tempo de coração aberto e encantado, desejando que todos, mas mesmo todos, tenham pelo mneos um pouco de felicidade.
Procurando o Natal nos meus autores preferidos, encontrei "Natividade" do Miguel Torga que passou a infância e, de certeza muitos natais, num local não muito longe do meu. Partilho-o com os meus leitores/as:
Natividade

Arde no coração da noite
A ritual fogueira que anuncia
O eterno milagre
Do nascimento.
Batida pelo vento,
Que da cinza das brasas faz semente,
É um sol sem firmamento,
Directamente
Aceso
E preso
À terra
Por mãos humanas.
De raízes profanas,
Lume de vida a bafejar a vida,
O seu calor aquece
A única certeza que merece
Ser aquecida...

(Miguel Torga, em Poesia Completa II, Círculo de Leitores)


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