GENTE QUE QUER CRESCER

Wednesday, October 27, 2004

COMO NOS ENSINAM A CRESCER...

"Ensinam-nos que crescer é deixar de ser criança. Controlar os medos, vencer as inseguranças, ser forte, ouvir a voz da razão.Só assim vencemos na vida.
E, passada a necessária insubmissão da adolescência, vamo-nos tornando adultos, seres racionais, controlados, conformados, à custa do aprisionamento do nosso lado infantil instintivo.
Passamos a ocupar um lugar na sociedade, ao lado de outros adultos que, como nós, cresceram e se tornaram alguém. Contra os quais temos, naturalmente, de lutar.
Precisamos de ter boas notas, boas casas, bons carros, amigos influentes, ganhar bem, andar bem vestidos, etc., etc..,
E é sobretudo com os múltiplos papéis que nos vão sendo atribuídos ao longo da vida que vamos identificando aquilo que somos. Será que sabemos o que somos, para lá dos papéis que representamos, das funções que desempenhamos?
Tudo isto, é apenas aparência, máscara. Não mais do que aquilo em que vamos tendo de embrulhar a nossa essência de forma a sermos aceites pelos outros. A ter amor.
E, se confundirmos uma coisa com a outra, criamos uma cisão no interior de nós mesmos.
Enquanto estamos a olhar para fora, ela não aparece. Respeitam-nos, dizem-nos que somos bons, inteligentes...E, a um certo nível, é quanto basta.
Não significa, porém, que a cisão não exista. E que não se vá alastrando. Aprofundando."
FÉLIX, Maria José Costa - Mais e melhor, ed.Oficina do Livro, 2003, p.83)
Há tempos, uma senhora na casa dos quarente veio procurar-me para que a ajudasse a perceber quem era. "Quem sou eu?" - dizia. "Que ando eu a fazer nesta vida?"E começamos um trabalho de descoberta do próprio EU que tem sido muito bonito. No nosso último encontro dizia: "Agora entendo porque é que eu me fui abaixo: passei os últimos 30 anos a cuidar do meu marido e dos meus filhos. Agora eles foram-se embora e eu fiquei sem ter por que lutar, sem ter para quem trabalhar..." Perbeu isso a tempo. Alguns, algumas, nunca chegam a entendê-lo.
Somos mais, muito mais do que as funções que desempenhamos na vida. E é urgente descobrir esse MAIS. Se conseguíssemos descobri-lo logo no princípio, se para isso tivesssemos sido educados, as nossas funções ou papéis (de mãe, de pai, de profissional...) seriam os primeiros a beneficiar. A densidade de vida conseguida iria ajudar imenso aqueles com quem e para quem trabalhamos. Há um crescimento que vem de dentro, daquela luz profunda que nos habita e que, se a descobrirmos, não cessa de irradiar. Descobri-la, fazê-la brilhar é um desafio para todos.

3 Comments:

  • At 8:37 AM, Blogger Ilda Fontoura said…

    Peço desculpa aos meus interlucotores/as pela distracção do último texto publicado. É que segui com um comentário logo a seguir ao texto, tão encavalitado nele, que nem se percebe onde termina um e começa outro.
    Portanto, já sabem, aquela história de alguém que se procura é minha...
    Continuo à espera dos vosos enriquecimentos. Mesmo de longe, vou ver se consigo ir dando uma espreitadela...

     
  • At 2:58 AM, Blogger Ilda Fontoura said…

    A PROPÓSITO DE MUDAR...
    Ontem, em conversa com uns amigos muito queridos, falávamos da necessidade de mudança e de quem pode mudar quem. Neste meu hábito de ficar a remoer coisas (às vezes também as que não devia remoer), vários pensamentos e possíveis comentários me vieram. Costumo afirmar muitas vezes, porque é minha convicção profunda, que "ninguém muda ninguém". Que ninguém muda, pelo facto de o outro lhe dizer que tem de mudar. Mesmo se esse outro é aquele que eu amo...Por outro lado, há uma frase que ouvi algures e que desde há anos me acompanha: "Quando decido dizer ao outro as suas quatro verdades, tenho de estar disposto a aguentar com o que essas mesmas quatro verdades irão provocar". E isto causa-me um certo susto interior. Com que é que eu estou a mexer quando mexo no outro? É que, é toda uma história que pode soltar-se em catadupa e que eu posso não saber controlar...Isto envia-me para um respeito muito grande pelo outro e por toda a sua história. E também pela sua capacidade de mudança que não é igual para todos.
    Então, dirão vocês, o que pode ajudar a mudar? Para mim só há um caminho. E chama-se TOMADA DE CONSCIÊNCIA, CONHECIMENTO. É o próprio que, sozinho, ou ajudado por um técnico competente, toma consciência dos seus funcionamentos mais ou menos desajustados de que, se calhar, gostaria de se libertar e decide mesmo mudar, procurando, com a ajuda de alguém, a sua origem. Sim, porque não há causa sem efeito e vice-versa. Se eu sofro hoje com a simples falta de um olhar carinhoso de alguém que me ama é porque talvez lá muito longe, na minha meninice, alguém me não olhou como eu desejava. E assim, por diante.
    Estas foram as reflexões pós-conversa com os meus queridos amigos que decidi deixar aqui ao jeito de partilha.

     
  • At 2:20 PM, Blogger Ilda Fontoura said…

    Obrigada, Céu, pela tua persistência. Fico feliz pela tua colaboração que , tenho a certeza, virá enriquecer muito as nossas reflexões. É sempre gratificante contactar com GENTE QUE QUER CRESCER - entenda-se, PESSOAS QUE QUEREM CRESCER.

     

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