NÃO SÓ QUEM NOS ODEIA...
Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.
Fernando Pessoa
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.
Fernando Pessoa
posted by Ilda Fontoura @ 8:49 AM
2 Comments:
At 6:11 AM,
Ilda Fontoura said…
Ainda ninguém decidiu enfrentar este texto tão rico e exigente do nosso grande Pessoa. Porque será? Será o medo de nos debatermos com a história mais ou menos complicada dos nossos afectos?
Pessoalmente, acho este texto duma sabedoria e duma exigência impressionantes. É que, caminhar "despido de afectos" é mesmo para os fortes... Agarramo-nos aos nossos afectos , sejam eles pessoas ou objectos,com toda a nossa força, esquecendo quanto nos prendem e nos impedem o voo para as alturas. "Quem quer pouco, tem tudo"...O TUDO que nos enche porque se debruça sobre o essencial da vida. O TUDO a que cada um de nós aspira, porque se identifica com a nosa aspiração ao infinito.
Neste dia em que a Tradição cristã celebra os seus SANTOS, parece-me muito oportuna esta reflexão. Eles foram aqueles que, despidos de afectos, voaram livremente em direcção ao TUDO.
At 12:33 PM,
Ilda Fontoura said…
Volto aos afectos, tentando entrar na Anabela. Claro que, na minha opinião, ninguém pode nem deve caminhar na vida despido de afectos... São eles que nos fazem viver. O que me parece importante, e creio que é esse o pensamento de Pessoa, é que os tais AFECTOS não nos amarrem, não nos cortem as asas. Aquelas asas grandes como as da águia que nos fazem tocar o céu. E como são nítidas as coisas vistas lá de cima! Quando pego neste tema das asas vem-me sempre à memória um bocadinho de um poema que não sei de quem é, e que começa assim: "eu tinha uma asas brancas, asas que um anjo me deu / que em me eu cansando da terra, batia-as, voava ao céu.."
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