GENTE QUE QUER CRESCER

Sunday, May 29, 2005

PENSATEMPOS

Não resisto a deixar aqui um bocadinho de uma reflexão de Mia Couto a propósito do seu ser híbrido de biólogo e escritor e do lançamento do seu novo livro "Pensatempos".

"E faço aqui, em família, uma confissão: me entristece o quanto deixamos de escutar. Deixamos de escutar as vozes que são diferentes, os silêncios que são diversos. E deixamos de escutar, não porque nos rodeasse o silêncio. Ficámos surdos pelo excesso de palavras. Ficámos autistas pelo excesso de informação.(...) A Biologia ensinou-me coisas fundamentais. Uma delas foi a humildade. Esta nossa ciência me ajudou a entender outras linguagens, a fala das árvores, a fala dos que não falam. A Biologia me servir de ponte para outros saberes.(...) E reconheci lições que já nos tinham sido passadas, quando ainda não tínhamos sido dados à luz. No redondo do ventre materno, já ali aprendíamos o ritmo e os ciclos do tempo. Essa foi a nossa primeira lição de música. O coração - esse que a literatura elegeu como sede das paixões - o coração é o primeiro a formar-se em morfogénese. Ao vigésimo segundo dia da nossa existência, esse músculo começa a bater (...)Antes da noção da Luz, o nosso corpo aprende a ideia do Tempo. Com vinte e dois dias, aprendemos que, essa dança a que chamamos Vida se fará ao compasso de um tambor feito da nossa própria carne".
Aconselho a que leiam o artigo todo, trazido por Laurinda Alves na primeira página da Xis deste sábado, dia 28.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home