GENTE QUE QUER CRESCER

Wednesday, May 03, 2006

O MEU DESERTO VIVIDO

Deserto...
Espera...inquieta, ansiosa, serena.
Deserto, o imprevisto, como na vida.
Os caminhos longos, áridos, agrestes.
O cansaço até à exaustão,
A emoção da chegada,
As lágrimas que se desprendem, quentes, silenciosas, festivas!
Os caminhos interiores já percorridos, os rostos e as paisagens que me habitam.
-"O Principezinho" da minha juventude, "Lawrence d'Arábia",
Carlos Carreto entre os Tuaregues, Jean-Yves Leloup..."-

Deserto é a imensidão,
É o nada, a ausência total de tudo:
De sensações, de emoções...o vazio.
É a vida "chocada", fecundada, no aconchego quente das dunas,
Que logo, logo vai brotar em gestos, palavras, sorrisos.
Deserto é silêncio...cortado, aqui e ali, pela gargalhada, pelo riso
- Alegria? Medo da solidão? Medo do vazio? Salto em frente? -
Sim, porque a palavra fecunda, a palavra-partilha, a alegria serena
Dizem-se baixinho, sussurram-se de coração a coração,
Dizem-se do essencial para o essencial.

Deserto são as pegadas na areia, logo desfeitas,
Logo cobertas por areia nova.
Deserto é o esforço da subida, passo a passo, pacientemente...
Até ao cimo, onde o grande sol terá outra cor.
Deserto é o andar ritmado do dromedário,
Lento, contemplativo, cadenciado, como o do seu dono.
Deserto é a areia em tempestade, que nos fustiga,
Nos bate no corpo e na alma, que entra por todos os poros,
Apagando traços, abrindo traços...
São as gotinhas de água que, vindas do nada,
Despedem a tempestade.

Deserto é encontrar uma tenda ou uma duna para aconchegar o sono,
Contemplando as estrelas, olhando a lua enorme, redonda,
E ouvindo o som da flauta, que nos emociona e embala.

Deserto é estar ali, no meio do nada, só, mas pleno de tudo.
É estar ali em adoração contemplativa
Recolhido em si e aberto ao TODO,
Ao Senhor das dunas e das areias, do vento e da tempestade, do sol e da chuva,
Ao Senhor de toda a VIDA que se esconde para além do nada.

Ilda

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