REAGIR / AGIR
Ontem, durante de uma reunião,em que se falava sobre o estado e valores do nosso mundo, ouvi mais uma vez o comentário "este mundo está cada vez pior" e creio que surgiu também um outro à volta da falta de valores.
Fiquei a pensar no assunto e apeteceu-me escrever sobre isso. Quem faz esta afrimação, só tem duas hipóteses: ou não se considera pertencendo a este mundo, ou admite que está, de facto nele, fazendo parte desta humanidade. Ora bem, na primeira hipótese a pessoa está a excluir-se e a dizer "eu sou a excelência e todos os outros são mais ou menos lixo vão todos para a condenação". Na segunda hipótese, a pessoa está a dizer "eu também estou cada vez pior". É que, quando afirmo "este mundo" eu estou a falar dele como se eu não estivesse nele...De certeza que não é nada disso que as pessoas querem dizer quando fazem esta afirmação. Normalmente estas frases são ouvidas em pessoas mais ou menos idosas...O que eu penso é que elas estão a reagir a um mundo cuja evolução não conseguem acompanhar e que as deixa inseguras.
O mesmo acontece com a queixa sobre a tão famosa "ausência de valores". Não ouço os jovens queixar-se disso. O que acontece é que os valores são diferentes daqueles que me trasmitiram numa época que já passou. E quem me disse que só havia esses? E que só esses eram bons? Alguém defende hoje, por exemplo, a escravatura?
A meu ver, a atitude mais correcta, seria a de OBSERVADOR. Não a de um observador passivo, que olha e passa adiante, mas do observador atento que olha, VÊ, e se interroga. Interroga-se sobre este mundo que muda a cada instante, sobre novos valores ou não valores que aparecem, sobre a melhor forma de intervir quando algo me leva a reagir. Porque, de facto, a reacção não muda nada. O que muda é a acção. Uma coisa é reagir, outra é agir. E o agir transforma, faz avançar, provoca mudançar em mim e nos outros.
Vem-me ao pensamento uma pequena história do povo judaico:
Deus disse a Moisés:
- Moisés, tu não vais entrar na Terra Prometida.
E Moisés ficou muito admirado. Ele desajava isso mais que tudo. E pôs-se a questionar Deus sobre essa sua decisão:
- Mas porquê, Senhor. Eu fiz tanto pelo teu povo.
E Deus continua:
- Nao, Moisés, não vais entrar. Reconhece o teu pecado.
E o pobre do Moisés pensou e voltou a pensar sobre qual seria o grande pecado que o impedia de entrar na Terra Prometida. E voltou:
- Ó Senhor, foi por eu ter duvidado da água a sair do rochedo?
E Deus continuou:
- Não, Moisés. Reconhece o teu pecado.
E por mais que Moisés desse voltas à cabeça não conseguia encontrar o tal pecado.
Por fim, Deus resolveu-lhe o problema:
- Moisés, tu não vais entrar na Terra Prometida, porque tu não pertences ao Povo. Tu excluiste-te desse Povo. Repara: sempre que te referes a ele dizes "este povo" o "teu povo"...
E Moisés reconheceu o seu pecado.