GENTE QUE QUER CRESCER

Wednesday, July 30, 2008

A criança...

A criança que ri na rua,
A música que vem no acaso,
A tela absurda, a estátua nua,
A bondade que não tem prazo -

Tudo isso excede este rigor
Que o raciocínio dá a tudo,
E tem qualquer coisa de amor,
Ainda que o amor seja mudo.

Fernando Pessoa

Friday, July 25, 2008

SE NÃO SENTES...

ALIMENTO para a semana:

"Se não sentes a vida que palpita em cada coisa que vês, estás a perder a vida"
"Se não sentes florescer em ti um milagre de amor quando contemplas uma flor, estás a perder a vida".
"Se queres brilhar, deita fora o que te sobra; só assim poderás reconhecer a luminosa simplicidade do ser".
(Jorge Carvajal)

Thursday, July 24, 2008

PARTILHANDO...

Ontem, foi o nosso segundo dia de meditação no espaço "pó de ser" que já por aqui mencionei. Um bonito grupo de cerca de dez pessoas responderam ao apelo, o que não deixa de ser significativo, atendendo ao período de férias que já vivemos. Ou será que muitas pessoas começam a perceber que o tempo de férias pode ser também um tempo de paragem, de recentramento, de fuga do barulho e o stress? Parece-me que sim, e parece-me bem. E louvo as orientadoras do Centro de me terem incentivado a começar precisamente nestes meses...Mesmo se isso exige alguma adaptação e um pouco de desapego da minha parte. Porque também faz bem a gente prescindir de alguns dos nossos pequeninos prazeres, em prol de outros. É assim que estou a sentir esta minha participação nas actividades deste espaço. Exigência de regularidade, de disciplina, de preparação cuidada, de atençõ ao outro. O CUIDAR, cuidar do outro é uma das mais belas facetas daquilo a que chamamos, solidariedade, fraternidade, compaixão, etc.. É também uma das minhas expressões preferidas, que fui buscar a Lurdes Pintassilgo e a Leonardo Boff. Cuidar de mim, cuidar do outro, cuidar da nossa Terra naquilo que alguns autores ja vão chamando os nossos "espaços comuns", à semelhança de um condomínio.
Pois então, aproveitemos este tempo de férias para nos cuidarmos e cuidar de...E não nos vai faltar por aí gente de quem cuidar, espaços a cuidar nesta imensa e infinita natureza de que desfrutamos.

Saturday, July 19, 2008

SABEDORIA

Já vem sendo meu hábito partilhar com os meus leitores extractos ou reflexões sobre as minhas leituras. Para além de ser agradável partilhar com alguém aquilo que a nós nos toca, também é uma forma de dar a conhecer os meus autores preferidos. Gandhi é um deles. Encontrei há tempos um livro com algumas joias da sua sabedoria. Aqui fica uma delas:
"Acredito que todas as criaturas de Deus têm tanto direito à vida quanto nós. Se os homens eruditos tivessem consagrado os seus dons a descobrir formas de lidar com as criaturas em lugar de ordenarem a sua matança como uma obrigação, estariamos a viver num mundo adequado à nossa condição de homens: animais dotados com a razão e a capacidade de eleger entre o bem e o mal, o certo e o errado, a violência e a não-violência, a verdade e a falsidade." (A sabedoria de Gandhi, ed. casadasletras)
Dá que pensar. Sobretudo quando pensamos que Gandhi escreveu numa sociedade, a indiana, onde as diferenças de classes continuam a atirar tanta gente para a fome, para a miséria e para a rua. E quando, recuando na história, encontramos tanta violência e tanta morte, a maior parte das vezes por causas bem nobres...

Thursday, July 17, 2008

NUNCA TENHAS MEDO...

"Nunca tenhas medo de nada!
Nunca te deixes levar pelos enganos e pela
tentação do sofrimento. A tua vida está no teu interior. O que deres de ti,
transformar-se-à na tua riqueza".


Carlos Nessi

Sunday, July 13, 2008

MUDANÇA

Ontem tive um dia duro-lindo-cansativo...Duro, porque estive permanentemente em actividade das 10 horas da manhã até perto da meia-noite: primeiro a receber o Curso de Excelência I da Ihavethepower com Adelino Cunha, depois a acompanhar a conferência que este orador motivacional veio fazer a Aveiro. Mas foi muito bonito ver o entusiasmo das pessoas pela mudança, o nível das conversas à volta deste tema e do tema dos sonhos, a vontade com que cada um e cada uma agarra o trabalho do seu desenvolvimento pessoal, em ordem à excelência. Gente bem jovem que recusa conformar-se com a "normose" do ser igual a todos, e que aposta na mudança. E como o bichinho do desenvolvimento pessoal e da mudança já assentaram a sua tenda em mim há longos anos, quando estou nestes ambientes sinto-me no meu "caldo" de crescimento por excelência.
E disseram-se coisas bonitas e muito dinamizantes:
"A mudança faz parte da nossa vida e do nosso quotidiano. Mudança não demora muito tempo. Acontece num instante. Mudança pode ser gerada pela dor. Dor é um sinal de que chegou a hora de mudar algo. É um indício de que estamos a utilizar uma abordagem desajustada".
"Queixa-se de que não é persistente? De que não consegue levar nada até ao fim? Então, experimente durante uns tantos dias (eu acrescentaria, 21) levar tudo até ao fim: beber o copo de água até ao fim, comer o que está no prato até ao fim, se vai à missa, ficar na missa até ao fim...depois, veja o resultado".
"Queixa-se de que o dinheiro não chega? Já experimentou anotar os gastos da semana, cêntimo a cêntimo? Faça isso..."
"Vá até à beira mar, procure um lugar tranquilo e escreva os seus sonhos, um por um, sem se questionar se é possível, se não é possível. Escreva-os apenas e deixe o "como" para mais tarde."
Ousemos experimentar estas técnicas de mudança, ousemos sonhar e deixemos de nos queixar da crise, do chefe, do país, do curso e de tantos outros impedimentos que inventamos para não mudar, para não crescermos, para não sermos nós próprios, continuando a reboque dos outros. TUDO ESTÁ NAS NOSSAS MÃOS.

Sunday, July 06, 2008

VOLUNTARIADO

Na sequência da minha inscrição no grupo dos voluntários para os Serviços Prisionais, vou-me deslocando todas as sextas feiras de manhã, com uma companheira, à cadeia da cidade. Vamos reunir com um grupo de mulheres que aqui aguardam o julgamento. São poucas, seis, sete...Gente bastante nova que talvez tenha tido o azar de estar no lugar errado à hora errada como se costuma dizer. Dá para perceber que gostam de passar aquela manhã connosco. Falam das suas vidas, da de dentro e da de fora. E nós ouvimos. Muito simplesmente, ouvimos. É a coisa de que todo o ser humano mais precisa: ser ouvido. Porque, quando ouço o outro, estou a dar-lhe importância. Estou a dizer-lhe que ele existe para mim, que o aceito tal qual é, sem o recriminar, sem o julgar. E, esta palavra assim ouvida liberta. É por isso que estas jovens-mulheres gostam de estar connosco e vão mais leves quando voltam às suas celas.
Também nós vimos de lá mais leves, mais enriquecidas. São autênticas lições de aceitação da vida tal como ela se apresenta nos seus momentos mais dolorosos, de solidariedade, de generosidade, que muitas vezes não encontramos nos que andamos cá por fora.
Reflectiamos em conjunto nesta última semana sobre as dificuldades de reiinserção quando vêm cá para fora. O estigma de ter estado presa fica agarrado à sua pele como um ferrete. Esquecemos que, nas mesmas circunstâncias, qualquer um de nós poderia ter sido apanhado nas mesmas malhas. A vida não é a branco e preto. A humanidade não é constituída por bons e maus, mas "às riscas", como muito bem dizia aquela criança a quem perguntaram de que cor seria se os maus fossem brancos e os bons fossem pretos: "Eu seria às riscas", respondeu ela prontamente.