COMO NOS ENSINAM A CRESCER...
"Ensinam-nos que crescer é deixar de ser criança. Controlar os medos, vencer as inseguranças, ser forte, ouvir a voz da razão.Só assim vencemos na vida.
E, passada a necessária insubmissão da adolescência, vamo-nos tornando adultos, seres racionais, controlados, conformados, à custa do aprisionamento do nosso lado infantil instintivo.
Passamos a ocupar um lugar na sociedade, ao lado de outros adultos que, como nós, cresceram e se tornaram alguém. Contra os quais temos, naturalmente, de lutar.
Precisamos de ter boas notas, boas casas, bons carros, amigos influentes, ganhar bem, andar bem vestidos, etc., etc..,
E é sobretudo com os múltiplos papéis que nos vão sendo atribuídos ao longo da vida que vamos identificando aquilo que somos. Será que sabemos o que somos, para lá dos papéis que representamos, das funções que desempenhamos?
Tudo isto, é apenas aparência, máscara. Não mais do que aquilo em que vamos tendo de embrulhar a nossa essência de forma a sermos aceites pelos outros. A ter amor.
E, se confundirmos uma coisa com a outra, criamos uma cisão no interior de nós mesmos.
Enquanto estamos a olhar para fora, ela não aparece. Respeitam-nos, dizem-nos que somos bons, inteligentes...E, a um certo nível, é quanto basta.
Não significa, porém, que a cisão não exista. E que não se vá alastrando. Aprofundando."
FÉLIX, Maria José Costa - Mais e melhor, ed.Oficina do Livro, 2003, p.83)
Há tempos, uma senhora na casa dos quarente veio procurar-me para que a ajudasse a perceber quem era. "Quem sou eu?" - dizia. "Que ando eu a fazer nesta vida?"E começamos um trabalho de descoberta do próprio EU que tem sido muito bonito. No nosso último encontro dizia: "Agora entendo porque é que eu me fui abaixo: passei os últimos 30 anos a cuidar do meu marido e dos meus filhos. Agora eles foram-se embora e eu fiquei sem ter por que lutar, sem ter para quem trabalhar..." Perbeu isso a tempo. Alguns, algumas, nunca chegam a entendê-lo.
Somos mais, muito mais do que as funções que desempenhamos na vida. E é urgente descobrir esse MAIS. Se conseguíssemos descobri-lo logo no princípio, se para isso tivesssemos sido educados, as nossas funções ou papéis (de mãe, de pai, de profissional...) seriam os primeiros a beneficiar. A densidade de vida conseguida iria ajudar imenso aqueles com quem e para quem trabalhamos. Há um crescimento que vem de dentro, daquela luz profunda que nos habita e que, se a descobrirmos, não cessa de irradiar. Descobri-la, fazê-la brilhar é um desafio para todos.