GENTE QUE QUER CRESCER

Friday, March 25, 2005

TÃO ALTO RIO E SOL

Hoje, porque vai sendo véspera de Páscoa, apeteceu-me colocar aqui um poema de um amigo que já conheceu (bem cedo, aliás) a RESSURREIÇÃO...Sim, neste momento ele já sabe "por onde se vai ter neste rio". Então aqui vai, em memória, um poema de António Pinto de Sousa.
Alto sol
dentro de mim
quando te vi.
Tanto
que madruguei
e vim...
para te ver nascer
aquém dos montes.
Alto rio
dentro de mim
que te abracei.
Tanto
que fugi...
para te alcançar
por outras fontes.
Tão alto rio e sol
que me doía
o peito em forma de navio.
E ainda mal sabia
onde se ia ter
por esse rio.

António Pinto de Sousa

Wednesday, March 16, 2005

RE-LENDO...

Quando a noite já começa a avançar, apetece-me vir aqui pesquisar as novidades do dia ou, simplesmente, despejar a minha alma. Hoje, à falta de comentários do último texto (haverá comentários para ele?), fui reler comentários antigos a antigos textos. E fiquei surpreendida pela riqueza que vai aparecendo em GENTE QUE QUER CRESCER. Há, de facto, por aí gente disposta a centrar ou recentrar a sua vida no essencial. Sim, porque só a partir daí é que acontece o "despertar" para a evolução interior a caminho da plenitude. E cada texto que reli é uma pérola de sabedoria interior. É como se, em conjunto fôssemos retirando bem lá do fundo aquilo que de mais precioso existe em nós. Porque todos somos possuidores de uma imensa riqueza, de tesouros desconhecidos que esperam ansiosamente que alguém lhes abra a porta. E essa é uma das funções deste Blog. Despertar VIDA. Comunicar VIDA. Fazer circular a VIDA. E, falando de vida, deixo aqui um pequeno poema de Tagore:
O Trono Secreto
VIDA da minha vida,
quero guardar o meu corpo sempre puro,
porque sei que na minha carne
vive o teu sopro imortal.
Afastarei a mentira
para longe dos meus pensamentos,
porque sei que tu és a verdade suprema
que acende a chama da razão, na minha fronte.
Expulsarei da minha alma todo o mal,
e farei dela a tenda do amor,
porque sei que escolheste para trono
o mais secreto do meu coração.
E farei que as minhas acções
revelem a tua presença,
porque sei que tu és a raiz
que fortalece o meu trabalho.

Tuesday, March 15, 2005

A PALAVRA

"Falais quando deixais de estar em paz
com os vossos pensamentos.

E quando não podeis já permanecer
na solidão do vosso coração
viveis nos vossos lábios;
e o som é divertimento e passatempo.

E, em boa parte dos vossos discursos,
o pensamento fica meio assassinado.
Porque o pensamento é uma ave do espaço,
que, metida na gaiola das palavras
pode abrir as asas, mas não pode voar.

Alguns de vós procuram os tagarelas,
com medo de ficarem sozinhos.

O silêncio da solidão revela aos próprios olhos
o seu eu em perfeita nudez e gostariam de fugir.

Outros falam e, sem o saberem ou premeditarem,
revelam uma verdade que nem eles entendem.

Outros ainda têm em si mesmos a verdade,
mas não a experimem por meio de palavras.

No coração destes, permanece o espírito
no ritmo do silêncio.

Quando encontrardes o vosso amigo
à beira do caminho
ou na praça do mercado,
que o espírito anime os vossos lábios
e dirija a vossa língua.

Que na vossa voz, a voz
fale aos ouvidos dos seus ouvidos.

Porque a sua alma
guardará a verdade do vosso coração
como permanece o aroma do vinho.

Quando esquecemos a sua cor
nem sabemos já do copo.

(GIBRAN, Kahlil, "O Profeta"


Sunday, March 06, 2005

METANOIA

As palavras são prisões: não apenas porque nos limitam constantemente, como também me parece que lhes atribuimos significados errados.
Quando penso que traduzimos metanoia por "convertei-vos" e depois, ainda pior por "fazei penitência", "arrependei-vos", quando esse termo significa que o nós o espírito, voa para lá de si próprio! Que diferença, que tem marcado com o seu ferro gerações de pobres crentes, mantendo-os subjugados!
"Transformai-vos", "entrai em metamorfose" tem um outro sabor...claramente mais próximo de nós. Essa mutação é realizável na nossa vida actual, sem esperar nenhuma eventualidade futura e aleatória".
Marc de Smith, Elogio do silêncio, Sinais de Fogo, Cascais, 2001)